quinta-feira, 10 de setembro de 2009

In Vino Veritas



Camaradas,

Falar de grandes homens é fácil. Basta elencar uma grande quantidade de seus feitos e dizer tudo o que ele representou para o mundo, para seus amigos, familiares e para os que apenas o conheciam.

Bem, hoje (ontem) faleceu Saul Galvão. Um grande homem. Nunca o conheci. Mas lia regularmente seus textos, suas dicas, suas experiências gastronômicas. Era quase como um amigo. Um guia na vida feliz dos sabores e das sensações. Seu ar professoral vinha também de sua imagem fanfarrona com belos e espessos bigodes.

Digamos que fui tecnicamente iniciado ao vinho com seu clássico “Tintos e Brancos”. Um livro acessível para aqueles que começam a se aventurar nesse mundo, mas também profundo – e sempre atualizado – sobre as sensações que Baco nos proporciona.

Desde esse primeiro contato, sempre gostei de suas descrições sobre os vinhos: aqueles que eu conhecia, e podia comparar, e aqueles que fiquei com vontade de experimentar.

Mas não só de vinhos ele falava. Todos os prazeres gastronômicos fazem parte de seus textos. Inclusive o de cozinhar. E, para os leigos ambiciosos, suas receitas fáceis e deliciosas estarão sempre disponíveis para os momentos especiais.

Além de um grande conhecedor, Saul Galvão era um grande comunicador. Um poeta. Porque só os poetas sabem dizer com palavras o que o espírito sente com o corpo.

Saúde!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Mais nova lição carioca

Camaradas,

O Rio de Janeiro é uma cidade cheia de encantos e cheia de pequenas curiosidades. Também, é cheia de grandes peculiaridades que remontam suas origens da colônia portuguesa.

Muito me espantei ao visitar o apartamento de um amigo, que habita o número 208 de determinado edifício. Fui alertado pelo porteiro que deveria pressionar o botão “4” para chegar ao andar correspondente ao apartamento que visitaria. Uma lógica um tanto estranha. De onde eu venho, os números dos apartamentos se referem, de alguma maneira, ao andar onde estão localizados. 208, portanto, deveria ser no segundo andar. Ou talvez no vigésimo. Eventualmente, talvez até no oitavo. Mas nunca imaginaria no quarto.

Passado meu espanto inicial, vi a seguinte placa, que atiçou ainda mais minha curiosidade.

(melhor que essa placa, só aquela “antes de entrar no elevador, certifique-se que o mesmo encontra-se parado no andar”)

Achei muito inteligente: o zero (sim, os cariocas conhecem essa inovação! Ponto pra eles! Os babilônios – a última civilização humana nos trópicos - não conheciam...), refere-se ao andar no nível da rua. Seqüencialmente, seguindo os números inteiros, cada andar tem como referência um número maior quando está em cima. De tal forma que o andar “5” fica exatamente um acima do “4”. Espantoso.

Ora, é louvável estabelecer que todos os andares sejam numerados seqüencialmente e sem letras! Sempre me confundi com a inexistência do 13º andar em vários edifícios novaiorquinos, e odeio – de verdade – aqueles andares “L”, “S”, “M”, “SL” ou “LO”, ou qualquer outra combinação que tente se referir ao nome do andar e impede que eu entenda afinal qual fica em cima e qual fica em baixo. E principalmente, qual é a saída.

Mas a numeração dos apartamentos, por algum motivo transcendental, não corresponde de maneira alguma ao andar onde estão localizados. Há uma fórmula matemática para definir o número do apartamento em relação ao andar: seja X o andar, e Y o primeiro algarismo do número do apartamento, a relação entre X e Y é: X = Y+2, para todo X >3 Os cariocas devem ser grandes matemáticos.

Para minha feliz surpresa, ao descer no quarto andar, estava de frente à porta 208. Ufa. Não entendi, mas deu certo. É por isso que a principal lição carioca é: nunca confie na lógica, nas regras ou nas placas. Pergunte aos locais.

Na próxima visita, perguntarei ao porteiro se no 3º pavimento encontra-se a Pontifícia Universidade Católica...

Tendo dito, até!