segunda-feira, 24 de março de 2008

Novas lições cariocas

Camaradas,


Depois de um longo período de férias, este sábio que vos escreve retorna com um pouco mais de sabedoria. O tema de hoje é o Rio e suas pequenas curiosidades irritantes. Sou e sempre serei um entusiasta dessa cidade onde o calor engrossa o sangue e impede as funções motoras e intelectuais. É um lugar para sentar e tomar chopp, que aliás deveria receber um nome diferente por aqui para não ser confundido com aquele que se toma em São Paulo. São coisas evidentemente diferentes e incomparáveis. Dar-lhes o mesmo nome só gera confusões desnecessárias entre os povos.

Alguns pequenos detalhes passam desapercebidos pelos turistas de primeira viagem, mas para um migrante que retorna à cidade maravilhosa, tais coisas causam impacto de imediato. O primeiro deles, para quem chega pela via Dutra, é o curioso outdoor tentando vender terrenos num adorável bairro da baixada: “Ainda é bom comprar em Vilar dos Teles”, complementada por uma faixa “Para revender”. Com isso, imagino que deve ser um mico ficar com qualquer propriedade por lá...

Outras pequenas aventuras acontecem com os visitantes á vacinados, que sabem que nessa cidade toda regra é feita para ser burlada de alguma forma. Já escrevi antes nesse blog que o Rio é a cidade do malandro. E a malandragem é um conceito dialético: a existência do malandro depende da existência do otário, e vice-versa. Todas as relações humanas, portanto, incluem a tentativa mútua entre as partes em fazer o outro de otário, para conseguirem se auto-proclamarem malandros.

Muito bem, a disputa não acontece apenas entre os civis, mas também entre os cidadãos e o Estado. A todo tempo. Minha penúltima aventura foi estacionar numa tranqüila rua, sem nenhuma espécie de sinalização indicando restrição ao estacionamento. Para minha surpresa, no dia seguinte meu possante com placa paulistana estava em outra esquina, parado em fila dupla. Os feirantes levantaram-no e o trocaram de posição para que a feira pudesse acontecer sem problemas. Ao havia, curiosamente, nenhuma marca de depredação ou multa no carro. Foi uma transposição civilizada. Daí a lição número 1: pergunte aos locais se você pode largar seu carro na rua. A sinalização nunca é suficiente.

Dois dias depois, a última aventura, devida inteiramente à minha completa incapacidade de compreender lições da vida. Incorrer em erro é normal. Repetir é estupidez. O calor engrossa o sangue, e me faz bem estúpido. Numa outra esquina, também sem sinalização larguei meu carro. Hoje, passando por lá não o vi. O fenômeno da transposição se repetiu, mas dessa vez liderado por funcionários do Estado (sete-Rio, com se diz por aqui) que o levaram para algum lugar quase tão distante quanto Vilar dos Teles. Daí a lição número 2: pergunte aos locais se você pode largar seu carro na rua. A sinalização nunca é suficiente.

Se eu consegui importar de volta meu carro, prometo que aprenderei as duas lições.

2 comentários:

Anônimo disse...

A sonegação de impostos é um dever cívico!!

Helga disse...

Muito bom! Vc deveria transferir o "foda-se" do pisca-alerta para os vidros, ou quem sabe, um detalhe na funilaria...

Achei as ruas do rio bastante femininas. Assim como acontece com nós mulheres: a sinalização nunca é suficiente!