quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Live and Let Die (1973)



Fanfarrão. Isso é o que Roger Moore é: o maior fanfarrão de todos os James Bond. Em outro momento já expressei minha predileção por esse ator (finalmente um inglês) que além da elegância peculiar consegue dar ao personagem um aspecto único de desdém.

Tudo para ele é fácil e simples. Mesmo que pra isso precise contar com a sorte. Ele é alto, esguio e não consegue fazer cenas de ação sem beirar o patético. É engraçado.
Moore está nesse filme apenas iniciando sua longa carreira como Jimmy. Ainda não está totalmente à vontade com o personagem, ainda precisa se referenciar em seus antecessores enquanto começa a construir sua própria versão: o cafajeste incorrigível.


(Jane Saymor, a Solitaire taróloga)

Bond demora os primeiros quarenta minutos do filme pra conhecer três namoradas. A primeira uma espiã italiana. A segunda, uma agente da CIA, que na verdade trabalha pro vilão. A terceira, uma taróloga. É com essa que ele passa o resto do filme e, finalmente, pode se dedicar a coisas de segunda importância como salvar o mundo.



Destaque para o fato de que nesse filme Jimmy não pede Martini, preferindo Uísque nas duas oportunidades que tem. Além disso, não hesita em fumar longos charutos, com a expressão de um homem que sabe que o mundo pode esperá-lo.


(Rosie, a agente dupla)

Os brinquedinhos não desempenham papel central, mas aparecem. Principalmente o relógio magnético que serve para atrair objetos metálicos e abrir zíper de vestidos femininos. O que marca mesmo é a nova postura de James Bond perante o mundo.

Pela primeira vez, nesse filme a cena inicial do agente atirando contra o revólver (e depois a tela fica sangrando) está sem chapéu. Enfim nenhuma referência mais ao chapéu. Os costumes são outros. Os anos 1970 apontam para uma era de novidades, de mudanças.


(A agente italiana...)


A primeira coisa é a liberdade sexual, que leva a canalhice de Bond ao limite. Em segundo lugar, a reviravolta no equilíbrio mundial, com o fim dos sistemas criados pós-guerra, em especial o padrão dólar-ouro. O equilíbrio político também passa a ser abalado. A guerra fria toma proporções novas com o Vietnam. Agentes não-estatais começam a ter importância nas relações internacionais, como a OPEP e organizações terroristas ou mesmo articuladas com o crime organizado e tráfico de drogas. Tudo isso marca o universo do novo Bond, de Roger Moore.



Aliás, deve-se comentar também a aparição da casa de 007, muito bem arrumada e espaçosa. Com uma ampla e equipada cozinha que inclui uma sofisticada máquina de café. Moore cria um Bond que é, além de tudo, exímio cozinheiro. Faz um belo café expresso, com creme e tudo. Num outro filme (a ser comentado no futuro) chega a cozinhar uma quiche!



Registrado todo meu deleite em ver Moore, cabe também comentar que em 1973 os EUA viviam a febre do movimento negro, e a cultura negra estava ganhando rapidamente e com força espaço. A estética, então, segue os cabelos Black-power, bem como a música e cenários em New Orleans. Entretanto, os negros no filme são todos vilões, ou traidora no caso da agente da CIA. Com exceção de Quarrel Jr., que é fiel amigo de Bond, cujo pai já havia aparecido em Dr. No.

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