quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Até que eles nem eram tão bárbaros assim...

Continuando com minhas intervenções que investigam a essência da alma humana, deparo-me neste texto com uma faceta largamente conhecida dos povos antepassados: o sacrifício humano em serviço a um deus qualquer.

A prática do sacríficio humano esteve presente em toda história dos povos passados. Dos Astecas ao aborígenes da Oceania, o ato de sacrificar crianças, doentes, prisioneiros, ou inimigos, era uma oferenda aos deuses. Para católicos, o sacrífico de Cristo na cruz foi uma representação de redenção dos homens pecadores. Como esquecer também Abrãao, que para demonstrar a sua fé a Deus, quase assassinou o seu próprio filho?!

Voltando ao povo Asteca, dizem os livros que os espanhóis se assustaram encontrar tamanha carnificina deste povo. Esse povo da América Central praticava dois tipos de sacrifícios. O primeiro, dedicado a Huitzilopochtli ou Tezcatlipoca: o sacrificado era colocado em uma pedra por quatro sacerdotes, e um quinto sacerdote extraía, com uma faca, o coração do guerreiro vivo para alimentar seu deus. O segundo era dedicado a Tlaloc: anualmente eram sacrificados crianças no cume da montanha. Acreditava-se que quanto mais as crianças chorassem, mais chuva o deus proveria.

Tudo o que descrevi até aqui, remete a tempos passados, a práticas rudimentares de oferendas a Deus. Após as revoluções das idéias no século XIX, diria algum leigo, o sacrifício humano como oferenda a deuses não faria mais parte da vida humana, pois a secularização do Estado e o desenvolvimento de uma compreensão racional da natureza teriam eliminado do globo as visões teológicas e brutais da vida humana. Certo? Não, errado!

Poucos podem distinguir, muito provavelmente sábios como os deste blog, o grande Deus do mundo burguês e iluminista, fruto das revoluções dos últimos 2 séculos. É o famigerado Deus Mercado (como vemos ao lado, representado por sacerdote burguês sendo conduzido pela mão invisível do Deus Mercado). A religião do Mercado, contra qualquer forma de intervencionismo pagão, rende inúmeros frutos para os seres terrestres do seu sistema. O sistema de preços, o equivalente ao anjo Gabriel pros católicos, permite que o mundo seja transparente e eficiente. Como imaginar um mundo fora do ótimo de Pareto?

Por outro lado, nós que seguimos cegamente os preceitos dessa religião praticamos diariamente sacrifícios ao Deus Mercado. Jornadas infinitas de trabalho, tardes ensoloradas dentro do escritório, países sem subsídios e gente morrende de fome são alguns dos exemplos mais óbvios.

De que serviu todo esse palavrório? Apenas para esclarecer como o Homem, um ser que se pensa tão imponente e poderoso, é no limite um masoquista, que consegue só consegue viver debaixo de chibatadas. Essa é a explicação por tanto amor aos sacrifícios terrenos e o esclarecimento mais oportuno da essência da alma humana. Acreditem ou não.

Um comentário:

Anônimo disse...

Léon,

você que tem parte na secularização da sociedade ao criar o equilíbrio geral sabe que hoje em dia ainda mantemos muitos rituais para o deus mercado.

O banco central sacrifica vigens vestais para evitar que a inflação acelere.

Para saldos comerciais positivos, em geral fazemos a dança do catulelê, com oferendas aos chineses (para que eles não mandem bugigangas pra cá).

Toda vez que o mercado está nervoso fazemos a oferenda do maracujá: despejamos títulos com prazos curtos e alta rentabilidade.

Mas o ritual que eu mais gosto dentre todos é o do crescimento: toda vez que a economia cresce a gente saí por aí juntando os índios e fazendo a dança da chuva. apagão é coisa de tucano!

sem mais,
gustavinho