domingo, 6 de janeiro de 2008

A verdade sobre a megasena


Camaradas,

De quando em quando gosto de fazer investimentos de alto risco. É muito bom sentir correr a emoção nas veias, não ter controle sobre o próprio destino, uma coisa easy rider mesmo. E melhor ainda é ser agraciado pela sorte, ou melhor, pela fortuna!

Eu sempre achei “sorte” um termo um pouco caído (trago essa peculiar expressão do meu estágio no Rio). Parece que é alguma coisa que vem da vontade divina, aleatoriamente, para agraciar o sujeito. Mas todos sabem, e os teólogos sabem mais – e os Sábios mais ainda, que Deus não distribui aleatoriamente suas vontades. Tudo tem um motivo. Desse jeito, não existe sorte.

Porém, sabemos que nem tudo é obra do Criador. Ele teria que gerenciar uma burocracia muito grande, sujeita a problemas de falha de governo, captura e outras bobagens de Buchanan (o prêmio Nobel, não o do uísque). Boa parte das coisas são deixadas para o acaso e podem ser determinadas aleatoriamente. Isso certamente é o que dá um barato a mais para a existência, é o que chamamos de vida.

Numa outra ocasião posso detalhar melhor a questão ontológica que se inicia aqui. Por enquanto, eu queria falar da Fortuna. Não uma grande soma de dinheiro, quero falar da Fortuna descrita pelo Nicolau, antigo conselheiro italiano que se estivesse vivo seria qualificado a escrever nesse blog. A Fortuna é o ambiente: as condições que cercam o sujeito. Pode ser alterada endogenamente, mas dá trabalho. O melhor é saber aproveitá-la tal como lhe é apresentada. Para isso o sujeito precisa de virtude.

A megasena talvez seja o investimento de alto risco mais interessante que existe. Primeiro porque se trata de jogatina liberada pelo Estado. Depois porque as probabilidades estão dadas. Não tem nada de incerteza: é risco puro. Coisa de neoclássico. Não tem Fortuna, são cinqüenta milhões de possibilidades matemáticas e apenas uma será escolhida a cada sorteio. Fortunato é o ganhador, que ganha uma fortuna. Não tem virtude: não há nada que o sujeito possa fazer para se dar melhor.

Sempre que acumula mais de R$ 10 milhões eu faço um pequeno investimento de R$ 1,50, que não alteram substancialmente minha riqueza, e corro o grande risco de perder todo o investimento ou, por outro lado, a pequena chance de ganhar uma bolada. Peço sempre um número aleatório, as chances são as mesmas e com isso evito ser responsável pela escolha dos números que selam minha própria derrota, nesse negócio tão arriscado.

No fundo é um jogo um pouco chato. Não dá pra torcer, não dá pra se envolver. Mas tem muito dinheiro rolando, então eu jogo.

O jogo de ontem, número 932, premiou algum felizardo com R$ 19 milhões. As dezenas sorteadas foram 02, 17, 21, 36, 42 e 53. Eu não acertei nenhuma. Felizmente não me sinto mal por isso. É só um jogo. Minha mãe me ensinou a perder.

O que mais me surpreende na megasena, e com isso eu chego ao fim desse post, é que por mais que seja um jogo de probabilidade o ganhador é sempre alguém em algum rincão desabitado. Nesse final de semana o cara é do Rio Grande do Norte.

Vejam bem, apostadores de lugares como São Paulo, Belo Horizonte ou Rio de Janeiro nunca ganham na megasena. Em termos probabilísticos, a maior parte dos prêmios deveria sair nos lugares que concentram maior número de apostas. Mas não. Os novos milionários sempre surgem em lugares estranhos. Deve ser a provisão divina. Alguma coisa como distribuição inter-regional da renda. Ou talvez a Caixa Econômica anda justificando fortunas suspeitas por aí.

Um comentário:

Unknown disse...

Segundo dados da Caixa. Econômica Federal, São Paulo é o estado onde foram registradas mais apostas vencedoras do prêmio principal da Mega-Sena. Desde o início da loteria, em 1996, 112 bilhetes de São Paulo acertaram as seis dezenas da faixa principal.
Minas Gerais e Rio de Janeiro ocupam, respectivamente, o segundo e terceiro lugar no ranking de estados que mais ganharam prêmios principais. Em Minas, foram registrados 41 bilhetes com as seis dezenas sorteadas e, no Rio, foram feitas 38 apostas premiadas.
São Paulo é o primeiro estado brasileiro em termos de população e, consequentemente, possui uma quantidade maior de pessoas que jogam. É o primeiro estado em arrecadação de loterias, bem a frente de Minas e do Rio, que têm números próximos.